sábado, 15 de junho de 2013

Reflexão Dominical - 11º Domingo do Tempo Comum



Neste 11º Domingo do tempo comum, a liturgia move nosso coração ao que mais é importante no processo de retomada ao amor de Deus. O reconhecimento de que somos pecadores e ao arrependimento dos pecados cometidos.
O ser humano criado a imagem e semelhança de Deus, possui em si, por Vontade de Deus a inclinação ao bem, e por permissão de Deus, a inclinação para o mau. Pelo uso da livre vontade que Deus mesmo no ato de criar o homem, concedeu-o, permitindo-o assim livremente decidir-se pela Sua Vontade, ou seja, em corresponder ao Seu plano de amor ou não.

O movimento da livre vontade do homem em Deus, insere-o no mistério do amor divino. O Evangelista Lucas relata a experiência da mulher pecadora que encontra-se com o que realmente ela necessitava, alguém em quem pudesse abandonar-se inteiramente, sem sofrer maus tratos, sem sentir-se usada como um objeto descartável. O encontro desta mulher com Jesus é o ponto chave da nossa reflexão hoje.
Não vem ao caso questionar o que de fato levou aquela mulher a condição em que se encontrava, o importante é que ela encontrou-se com Jesus naquele dia, na casa do fariseu, naquela refeição. O que ela viveu não nos interessa neste momento, pois, a decisão dela agora era pelo Senhor. Jesus atraiu para si o querer daquela mulher pecadora. Jesus conhecia o interior de todos os presentes naquele lugar, mais dentre todos os presentes ninguém demonstrou tanto amor a não ser esta mulher pecadora. Nota-se aqui que quem dá o amor é quem o conhece de fato, quem necessita é atraído até Ele.
Para que este mesmo amor atinja a mulher pecadora, primeiramente foi necessário o querer dela permitindo-se ser amada por Jesus. O texto relata que, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, trouxe um frasco de alabrasto com perfume. Provavelmente ela já sabia quem era Jesus, o que Ele fazia. Simplesmente por ter ouvido falar dele. Mas ela ainda não o tinha visto pessoalmente, ela não o havia encontrado. O movimento aqui é interior no que se refere ao querer da mulher em encontrar-se com Jesus, claro que, mais que o querer da mulher, era o querer de Jesus em encontrar-se com Ela naquele momento, pois seria uma experiência única de amor, pois Deus naquele momento encontraria uma frestinha livre, pelo livre querer daquela mulher em ser amada por Deus.
É evidente que, sem a graça de Deus, que é o que realmente nos atrai neste exercício de querer a Deus, não seriamos capazes de encontrarmos com Ele, reafirmo que, é somente pela graça de Deus, que somos capazes de livremente mover o nosso querer para Deus, mais ainda reforço que, quem faz essa aproximação é Deus, pois entre Deus e o homem, o dependente de ser amado é o homem.
A mulher pecadora está presente juntamente com os convidados à aquela refeição, na casa do fariseu, ela adentra o recinto e vai direto ao que lhe atrai, a pessoa de Jesus.
É extraordinária a cena, se notarmos a liberdade que essa mulher tem de adentrar o lugar onde encontra-se Jesus. Primeiro o ambiente onde eles se encontravam tinha um dono, que era o fariseu. Mesmo assim ela entra, pois mais do que estar no ambiente, o querer dela estava sendo atraído por Jesus. Necessário era aquele encontro, muito mais do que a refeição ali acontecendo. Nota-se aqui que Jesus não é somente o convidado do fariseu, mas que onde Jesus está Ele pertence a todos que o queiram, Ele rompe com todos os limites físicos e até mesmo espirituais, ou seja, a casa pode até ser do fariseu, mas por Jesus estar ali, o acesso a Ele é por sinal livre aos que o verdadeiramente o queiram, exemplo este é o mover-se da mulher pecadora até Jesus. Onde Jesus está, o acesso até Ele é livre, pois Nele não há limites e nem fronteiras. Onde Jesus está, os pronomes de primeira pessoa (meu, minha) invalidam-se, transformando-se em (nosso). Vemos então que Jesus não é somente o convidado do fariseu, mas, é de todos os que o queiram.   
A mulher pecadora é atraída por Jesus. Ela sente o que em toda sua vida ela buscava, o sentimento de ser amada. O amor era o seu remédio para a condição em que ela se encontrava.
O olhar crítico do fariseu julga Jesus e a mulher, se esse homem fosse profeta, saberia bem quem é a mulher que o toca, porque é uma pecadora! Jesus não julga a mulher e muito menos o fariseu, mas como mestre e experiente do amor, penetra no mais íntimo do coração daquele homem e coloca lado a lado o coração dele com o da mulher pecadora, narrando uma brilhante parábola, dando-lhe assim um ensinamento. Sem perceber o fariseu é exposto para si mesmo diante das palavras do mestre, o qual o questiona, e ele em sua resposta acusa-se diante da verdade, sem perceber que está falando de si mesmo, acusando-se no sentido que entre ele e a mulher pecadora, quem mais está sendo amado é ela, pois ela livremente mais demonstra amor.
O fariseu age assim demonstrando pouco amor, provavelmente porque sua credulidade estava por sua livre vontade depositada na sua grande capacidade de conhecer as leis e identificar as características de um profeta. Ele se encontrava voltado sobre si mesmo, isso era tão intenso nele que mais lhe estava sendo importante o cumprimento do que ele tinha como saber, do que praticar o amor a Jesus, que resumia-se na prática do que ele mesmo reconhecia conhecer, as leis.
Por conhecer os profetas, ele logo sabia identificar um, mas o que ele não percebia era que Jesus era mais que um profeta, ali em sua casa estava o Filho de Deus, de forma humana. O cumprimento de todas as leis que os profetas esforçavam-se em viver e o cumprimento de todas as promessas de Deus proferida pelos profetas. Agora não somente no conhecimento, mas na carne, na forma de uma pessoa. O fariseu se põe em contradição, pois o que ele afirma tanto conhecer ignora na manifestação real de Jesus.
No segundo livro de Samuel encontra-se Natã que na condição de profeta, com muita sabedoria expõe o rei Davi através de uma estória, diante de seu pecado. Percebe-se aqui uma ponte entre esta leitura com o Evangelho de Lucas. Analogamente Natã com a pessoa de Jesus e o rei Davi diante de seu pecado com o fariseu que é interrogado por Jesus. O pecado de Davi era grave, pecado de adultério e de homicídio.
Da mesma forma que Jesus ao interrogar o fariseu narrando-lhe uma parábola, o profeta Natã narra uma estória. Diferentemente de Davi o fariseu não se arrepende e muito menos reconhece seu pecado, mas a mulher pecadora, manifestando-se assim todo sentido messiânico de Jesus, veio para curar os corações feridos e libertá-los do Mal. Sentido este que se resume no amor.
A mulher pecadora reconhece seu pecado, e arrepende-se de tê-lo cometido. A chave para total transformação da história dessa mulher está realmente no reconhecimento de seu pecado, pois é, somente nesta condição que ela percebe que todo o seu sofrimento estava sendo fruto de uma escolha pessoal. O que a fazia continuamente cometer o seu pecado era a busca desenfreada em querer ser amada pelos outros. Em todas as vezes que ela buscava ser amada pelos outros, sentiu-se simplesmente usada, pois antes de querer ser amada por alguém, ela se encontrava profundamente ferida em sua humanidade. Ferida está que a tornava cega nas suas capacidades, inclusive a de escolha, no exercício da sua vontade e da sua liberdade. Fechada sobre si mesma ela vivia cobrando amor de todos.
Mas o encontro com Jesus foi diferente, neste homem ela se encontrou primeiramente com seu ser essencial, experimentou o verdadeiro amor, com isso foi curada, e enquanto curada, voltou a acreditar no amor. Acreditando no amor, manifestou-se a Jesus em gestos livres de quem expressa gratidão. Essa mulher encontrou-se com o amor, e nesse encontro ela descobriu, trouxe a tona toda a verdade que trazia dentro de si, não quis mais permanecer escondida dentro de si mesma, recobrando assim sua capacidade de amar. Ela livremente expressou amor a Jesus. Ela foi profundamente curada na sua capacidade de amar.

Da mesma maneira que a mulher pecadora encontrou-se com o amor, que é o próprio Jesus, necessitamos também vivenciarmos em nossa vida. O reconhecimento e o arrependimento do pecado é o nosso exercício para voltarmos para o amor de Deus.





Edenilson Fernando do Nascimento
Seminarista de Filosofia

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