Neste 11º Domingo do tempo
comum, a liturgia move nosso coração ao que mais é importante no processo de
retomada ao amor de Deus. O reconhecimento de que somos pecadores e ao
arrependimento dos pecados cometidos.
O ser humano criado a
imagem e semelhança de Deus, possui em si, por Vontade de Deus a inclinação ao
bem, e por permissão de Deus, a inclinação para o mau. Pelo uso da livre
vontade que Deus mesmo no ato de criar o homem, concedeu-o, permitindo-o assim
livremente decidir-se pela Sua Vontade, ou seja, em corresponder ao Seu plano
de amor ou não.
O movimento da livre
vontade do homem em Deus, insere-o no mistério do amor divino. O Evangelista
Lucas relata a experiência da mulher pecadora que encontra-se com o que
realmente ela necessitava, alguém em quem pudesse abandonar-se inteiramente,
sem sofrer maus tratos, sem sentir-se usada como um objeto descartável. O
encontro desta mulher com Jesus é o ponto chave da nossa reflexão hoje.
Não vem ao caso questionar
o que de fato levou aquela mulher a condição em que se encontrava, o importante
é que ela encontrou-se com Jesus naquele dia, na casa do fariseu, naquela
refeição. O que ela viveu não nos interessa neste momento, pois, a decisão dela
agora era pelo Senhor. Jesus atraiu para si o querer daquela mulher pecadora.
Jesus conhecia o interior de todos os presentes naquele lugar, mais dentre
todos os presentes ninguém demonstrou tanto amor a não ser esta mulher
pecadora. Nota-se aqui que quem dá o amor é quem o conhece de fato, quem
necessita é atraído até Ele.
Para que este mesmo amor
atinja a mulher pecadora, primeiramente foi necessário o querer dela permitindo-se
ser amada por Jesus. O texto relata que, sabendo
que ele estava à mesa na casa do fariseu, trouxe um frasco de alabrasto com
perfume. Provavelmente ela já sabia quem era Jesus, o que Ele fazia. Simplesmente
por ter ouvido falar dele. Mas ela ainda não o tinha visto pessoalmente, ela
não o havia encontrado. O movimento aqui é interior no que se refere ao querer
da mulher em encontrar-se com Jesus, claro que, mais que o querer da mulher,
era o querer de Jesus em encontrar-se com Ela naquele momento, pois seria uma
experiência única de amor, pois Deus naquele momento encontraria uma frestinha
livre, pelo livre querer daquela mulher em ser amada por Deus.
É evidente que, sem a
graça de Deus, que é o que realmente nos atrai neste exercício de querer a
Deus, não seriamos capazes de encontrarmos com Ele, reafirmo que, é somente
pela graça de Deus, que somos capazes de livremente mover o nosso querer para
Deus, mais ainda reforço que, quem faz essa aproximação é Deus, pois entre Deus
e o homem, o dependente de ser amado é o homem.
A mulher pecadora está
presente juntamente com os convidados à aquela refeição, na casa do fariseu,
ela adentra o recinto e vai direto ao que lhe atrai, a pessoa de Jesus.
É extraordinária a cena,
se notarmos a liberdade que essa mulher tem de adentrar o lugar onde
encontra-se Jesus. Primeiro o ambiente onde eles se encontravam tinha um dono,
que era o fariseu. Mesmo assim ela entra, pois mais do que estar no ambiente, o
querer dela estava sendo atraído por Jesus. Necessário era aquele encontro,
muito mais do que a refeição ali acontecendo. Nota-se aqui que Jesus não é
somente o convidado do fariseu, mas que onde Jesus está Ele pertence a todos
que o queiram, Ele rompe com todos os limites físicos e até mesmo espirituais,
ou seja, a casa pode até ser do fariseu, mas por Jesus estar ali, o acesso a
Ele é por sinal livre aos que o verdadeiramente o queiram, exemplo este é o
mover-se da mulher pecadora até Jesus. Onde Jesus está, o acesso até Ele é
livre, pois Nele não há limites e nem fronteiras. Onde Jesus está, os pronomes
de primeira pessoa (meu, minha) invalidam-se, transformando-se em (nosso).
Vemos então que Jesus não é somente o convidado do fariseu, mas, é de todos os
que o queiram.
A mulher pecadora é
atraída por Jesus. Ela sente o que em toda sua vida ela buscava, o sentimento
de ser amada. O amor era o seu remédio para a condição em que ela se
encontrava.
O olhar crítico do fariseu
julga Jesus e a mulher, se esse homem
fosse profeta, saberia bem quem é a mulher que o toca, porque é uma pecadora! Jesus
não julga a mulher e muito menos o fariseu, mas como mestre e experiente do
amor, penetra no mais íntimo do coração daquele homem e coloca lado a lado o
coração dele com o da mulher pecadora, narrando uma brilhante parábola,
dando-lhe assim um ensinamento. Sem perceber o fariseu é exposto para si mesmo
diante das palavras do mestre, o qual o questiona, e ele em sua resposta
acusa-se diante da verdade, sem perceber que está falando de si mesmo,
acusando-se no sentido que entre ele e a mulher pecadora, quem mais está sendo
amado é ela, pois ela livremente mais demonstra amor.
O fariseu age assim
demonstrando pouco amor, provavelmente porque sua credulidade estava por sua
livre vontade depositada na sua grande capacidade de conhecer as leis e
identificar as características de um profeta. Ele se encontrava voltado sobre
si mesmo, isso era tão intenso nele que mais lhe estava sendo importante o
cumprimento do que ele tinha como saber, do que praticar o amor a Jesus, que
resumia-se na prática do que ele mesmo reconhecia conhecer, as leis.
Por conhecer os profetas,
ele logo sabia identificar um, mas o que ele não percebia era que Jesus era
mais que um profeta, ali em sua casa estava o Filho de Deus, de forma humana. O
cumprimento de todas as leis que os profetas esforçavam-se em viver e o
cumprimento de todas as promessas de Deus proferida pelos profetas. Agora não
somente no conhecimento, mas na carne, na forma de uma pessoa. O fariseu se põe
em contradição, pois o que ele afirma tanto conhecer ignora na manifestação
real de Jesus.
No segundo livro de Samuel
encontra-se Natã que na condição de profeta, com muita sabedoria expõe o rei
Davi através de uma estória, diante de seu pecado. Percebe-se aqui uma ponte
entre esta leitura com o Evangelho de Lucas. Analogamente Natã com a pessoa de
Jesus e o rei Davi diante de seu pecado com o fariseu que é interrogado por
Jesus. O pecado de Davi era grave, pecado de adultério e de homicídio.
Da mesma forma que Jesus
ao interrogar o fariseu narrando-lhe uma parábola, o profeta Natã narra uma
estória. Diferentemente de Davi o fariseu não se arrepende e muito menos
reconhece seu pecado, mas a mulher pecadora, manifestando-se assim todo sentido
messiânico de Jesus, veio para curar os corações feridos e libertá-los do Mal.
Sentido este que se resume no amor.
A mulher pecadora
reconhece seu pecado, e arrepende-se de tê-lo cometido. A chave para total
transformação da história dessa mulher está realmente no reconhecimento de seu
pecado, pois é, somente nesta condição que ela percebe que todo o seu
sofrimento estava sendo fruto de uma escolha pessoal. O que a fazia
continuamente cometer o seu pecado era a busca desenfreada em querer ser amada
pelos outros. Em todas as vezes que ela buscava ser amada pelos outros,
sentiu-se simplesmente usada, pois antes de querer ser amada por alguém, ela se
encontrava profundamente ferida em sua humanidade. Ferida está que a tornava
cega nas suas capacidades, inclusive a de escolha, no exercício da sua vontade
e da sua liberdade. Fechada sobre si mesma ela vivia cobrando amor de todos.
Mas o encontro com Jesus
foi diferente, neste homem ela se encontrou primeiramente com seu ser
essencial, experimentou o verdadeiro amor, com isso foi curada, e enquanto
curada, voltou a acreditar no amor. Acreditando no amor, manifestou-se a Jesus
em gestos livres de quem expressa gratidão. Essa mulher encontrou-se com o
amor, e nesse encontro ela descobriu, trouxe a tona toda a verdade que trazia
dentro de si, não quis mais permanecer escondida dentro de si mesma, recobrando
assim sua capacidade de amar. Ela livremente expressou amor a Jesus. Ela foi
profundamente curada na sua capacidade de amar.
Da mesma maneira que a mulher pecadora
encontrou-se com o amor, que é o próprio Jesus, necessitamos também
vivenciarmos em nossa vida. O reconhecimento e o arrependimento do pecado é o
nosso exercício para voltarmos para o amor de Deus.
Edenilson Fernando do Nascimento
Seminarista de Filosofia
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