O
problema vocacional continua a ser um “caso sério”. Sério porque as vocações
são um sinal indicador da vitalidade e da espiritualidade de uma comunidade
cristã. Uma comunidade eclesial que não suscitasse vocações para a continuidade
de sua missão seria uma comunidade estéril. Não obstante, o que mais nos
preocupa, não é a escassez de vocações em si, mas a mentalidade e o modo de
conceber e viver a própria existência. A interpretação cristã da vida, como
resposta ao chamado de Deus e o encontro pessoal com Ele, choca-se com uma
cultura que enfatiza a primazia da decisão e da escolha subjetiva, individual,
eliminando-se, assim, a iniciativa de Deus e o diálogo com Ele. Segundo este
modo de conceber a existência, a perspectiva de um “chamado divino” torna-se completamente
estranho ao horizonte da existência.
Portanto,
antes ainda de falarmos de “vocações”, é preciso encontrar caminhos para uma
evangelização da vida e do seu sentido, pois um dos maiores desafios da
evangelização hoje consiste em restituir à vida a sua intocável sacralidade de
dom. Dom maior que deve ser acolhido, respeitado, amado, conduzido e orientado
segundo o Autor da vida.
Além
de evangelizar a vida, somos convocados a evangelizar a liberdade e, com ela, a
própria pessoa, que projeta a vida sobre esta mesma liberdade. Aliás, a
liberdade é o lugar misterioso onde Deus mais intensa e eficazmente está
presente em nós e, ao mesmo tempo, onde reside nossa irrepetível
originalidade.
Acolher
e seguir o próprio chamado quer dizer, então, tornar-se autenticamente livre.
Assim, a pastoral vocacional é uma escola de promoção da liberdade humana.
Frequentemos esta escola.
Convém,
portanto, não perder de vista que é Deus quem põe no coração humano as questões
mais cruciais a respeito do sentido da vida, e não o ser humano. Não é o ser
humano que chama Deus, mas é Deus quem toma a iniciativa de chamar o ser
humano, em primeiro lugar, à vida e, depois, a uma vocação específica. Ao
chamar alguém, Deus se oferece Ele mesmo como resposta a quem busca sua
realização pessoal.
Nesta
perspectiva, cada vida humana é vocação, e não mero acaso ou destino cego, mas
vocação, isto é, “Deus nos chamou com uma vocação santa, não por causa de
nossas obras, mas por causa do seu plano salvífico e da sua graça, que nos foi
dada em Cristo Jesus antes de todos os tempos” (2 Tm 1,9-10).
Assim,
a vida não é solitária aventura, mas diálogo, dom que se torna tarefa, dever,
missão... Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano é chamado a
dialogar com seu Criador, a conhecê-Lo, a encontrá-Lo, a amá-Lo, para partilhar
da Sua vida na eternidade. Pois “a razão mais alta da dignidade humana consiste
na sua vocação à comunhão com Deus” (GS, 19).
A
Pastoral Vocacional é um bom caminho para quem deseja buscar uma resposta
objetiva ao sentido de sua vida. Ajuda os membros da comunidade eclesial a
crescerem na maturidade da fé, tornando-os capazes de descobrir e discernir a
própria vocação e missão a serviço da comunidade. Assim sendo, é necessário que
a Igreja estimule os batizados e crismados a tomarem consciência da sua própria
e ativa responsabilidade na vida eclesial... A verdadeira pastoral vocacional
envolve as paróquias, as escolas, as famílias, suscitando uma reflexão mais
atenta sobre os valores essenciais da vida, cuja síntese decisiva está na
resposta que cada um é convidado a dar ao chamamento de Deus (cf. NMI, 56).
Onde há um trabalho organizado de animação vocacional ou de Pastoral
Vocacional, não faltarão vocações. Fazer animação vocacional é ajudar os
vocacionados/as a perceber que Deus é Amor: “quem permanece no amor, permanece
em Deus e Deus permanece nele” (1 Jo 4, 16). E a alegria será completa...
Dom Nelson Westrupp, Bispo da Diocese de Santo André SP
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